A Expressão Facial da Emoção na Psicopatia

O psicopata tem ou não tem emoção?

Uma premissa comumente difundida sobre a psicopatia é que o psicopata não tem emoção. Desde já, é importante dizer que essa é uma premissa falsa. Vou abordar uns tópicos referentes à expressão facial da emoção e sobre o estudo do cérebro do psicopata, a fim de ilustrar melhor a questão.

A Psicopatia

Antes de tudo, é importante dizer que o conceito de psicopatia diz respeito à um fenômeno de estudo dentro da área da saúde e aponta aspectos específicos de funcionamento da personalidade, dos comportamentos, controle de impulsividade, planejamento de ação, introjeção de regras e manutenção de afetos – quando comparados à “população normal”. Isto é importante, pois, ministrando cursos sobre psicopatia, pude notar que é comum que as pessoas, de uma forma geral, confundam ou associem o psicopata com o serial killer. Este último, para esclarecer de uma forma breve, diz respeito a uma modalidade de assassinato e faz parte do campo de estudo da criminologia. Em resumo, pode-se encontrar psicopatas que não são assassinos seriais (e que não são nem assassinos) e pode-se encontrar serial killers que não são psicopatas. Em psicologia forense essas abordagens auxiliam na compreensão total do fenômeno.

Outra das confusões mais comuns é sobre os termos psicopatia x sociopatia que, de uma forma geral e prática, são sinônimos e fazem referência ao mesmo tipo de quadro clínico. A questão da diferença entre as nomenclaturas vêm contaminada com a visão de cada autor e dialoga com aquilo que acreditam ser as origens do quadro, se relacionadas com genética, cérebro e psique, ou se são decorrentes dos processos de aprendizagem (visão behaviorista). Escrevi um texto público abordando esses assuntos e este pode ser consultado no site da Sociedade dos Psicólogos (https://spsicologos.com/2017/12/02/as-psicologias-do-psicopata/).

A Expressão Facial da Emoção

A Expressão Facial da Emoção (EFE) é uma subárea da psicologia e da psicologia das emoções. É o meu campo de especialização e é por onde venho realizando a maioria das minhas pesquisas atuais. De uma forma breve, compreendemos a expressão facial como uma consequência dos processos cerebrais e utilizamos de metodologias científicas, como o Facial Action Coding System (FACS) e o Emotion FACS (EMFACS) para mensurar e interpretar os comportamentos da face humana.

Em resumo, por meio do FACS foi possível conhecer, de forma precisa, quais são e como se comportam as 7 emoções básicas que tem expressões faciais universais, isto é, hoje, sabemos diferenciar uma ação facial espontânea e genuína (decorrente de um estado interno como uma emoção, patologia ou estado de dor) de uma expressão posada, controlada ou dissimulatória, por exemplo.

(Pedrinho, o Matador e O Maníaco do Parque, respectivamente, sob a ótica do FaceReader 7.0, em imagens exemplificativas)

No começo de 2017 realizei um trabalho de codificação facial que analisou alguns serial killers e psicopatas do Brasil e do exterior. Este trabalho foi realizado por Freitas-Magalhães e por mim, tendo vídeos de entrevistas como materiais de análise e utilizando um software chamado FaceReader 7.0 – que realiza a codificação e decodificação automática e em tempo real da EFE, com base no FACS. Para além dos dados do FaceReader 7.0, alguns trechos foram codificados manualmente por grupos e discutidos em cursos.

Foram analisadas entrevistas e reportagens com Pedro Rodrigues Filho (Pedrinho, o matador), Francisco das Chagas (Predador de Crianças), Francisco de Assis Pereira (Maníaco do Parque), Marcelo Nascimento da Rocha (este não é serial killer e sua análise foi feita recentemente de forma manual), Ted Bundy, Charles Manson e Aileen Wuornos. Os resultados são bem interessantes e, para além das diversas estruturas de personalidade/estruturas clínicas que podem ser inferidas com base em seus comportamentos e discursos (isto é, a possibilidade de observar os casos desde a visão psiquiátrica enquanto psicose e psicopatia, até a visão dinâmica que compreende os aspectos psicóticos ou perversos constituintes da pessoa – a nível de exemplo, tanto Pedrinho quanto o Maníaco do Parque são serial killers, mas o quadro de Pedrinho diz respeito à uma estrutura perversa, enquanto o quadro do Maníaco sugere questões psicóticas, principalmente pela via verbal, como a dupla personalidade), também foi possível perceber, agora, por meio dos marcadores faciais, que essas pessoas apresentam emoções em seus discursos, sendo que foram notadas, de forma significativa, as sensações de prazer (relacionadas à alegria), o duping delight (emoção positiva particular relacionada com o comportamento de mentir/enganar), a raiva e o desprezo. Já os sentimentos de culpa e remorso não apareceram e essa é a principal diferença emocional que quero destacar para já, uma vez que dialoga e corrobora com os dados encontrados de forma consensual na literatura científica.

O Cérebro do Psicopata

Robert Hare Cérebro do Psicopata Psicopatia

(Imagem da pesquisa de Robert Hare)

Outro tópico fundamental para a compreensão das Psicologias do Psicopata diz respeito aos aportes e descobertas da neurociência, que vem apontando padrões encontrados no funcionamento cerebral de psicopatas.

“O Dr. Robert Hare, Psicólogo da University of British Columbia, completou um estudo sobre como as ondas cerebrais monitoradas de psicopatas reagiam à linguagem verbal, medindo as mudanças que ocorriam em seu cérebro quando ouviam palavras como câncer, morte, mesa ou cadeira. Para as pessoas saudáveis, as ondas cerebrais têm sua atividade modificada rapidamente, dependendo da palavra ouvida. Para os psicopatas, nenhuma atividade cerebral especial foi registrada, ou seja, todas as palavras são neutras para essas pessoas”. (Casoy, 2008, p. 44)

Em resumo, a literatura aponta para falhas no funcionamento do córtex pré-frontal e em suas conexões com a amigdala – região do sistema límbico considerada o centro emocional do cérebro. As perturbações nessas estruturas resultam em deficiências na função executiva, isto é, planejamento, controle inibitório, tomada de decisões e controle social, por exemplo, conduzindo a uma maior agressividade, impulsividade e manifestação de comportamentos antissociais. (Goleman, 2012).

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Referências

Casoy, I. (2008). Serial killer: louco ou cruel? São Paulo: Ediouro.

Freitas-Magalhães, A. (2016/2017). F-M FaceReader Database (F-MFR). Porto: Facial Emotion Expression Lab.

Goleman, D. (2012). O cérebro e a inteligência emocional: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Objetiva.

Hare, R. D. (1973). Psicopatia: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.

Hare, R. D. (2013). Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre: Artmed.

Morana, H. C. P.; Stone, M. H.; Abdalla-Filho, E. (2006). Transtornos de personalidade, psicopatia e serial killers. Rev. Bras Psiquiatr., 26, 74-79.

Por Caio Ferreira

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