A ciência da expressão facial e toda analise do comportamento emocional começa pelo cérebro, “o camarim das emoções“. É no cérebro que as emoções são elaboradas e enviadas para os sistemas motores da face e do resto do corpo. No que diz respeito à análise e mensuração das emoções básicas, a ferramenta mais confiável é o Facial Action Coding System (FACS), que se preocupa em medir as ações faciais – “o palco“, onde se revelam as emoções.
Em 1872, Charles Darwin propôs que haveria um modelo no código genético e no cérebro que seria responsável por transmitir o caráter básico, inato e universal de certas expressões emocionais. Hoje sabemos que Darwin estava certo e descobrimos a importância de áreas como o sistema límbico e o nervo craniano VII, para a realização do comportamento emocional em sua totalidade.
A teoria do cérebro trino

(Imagem retirada da internet que ilustra, de forma sinalizada, as áreas propostas por McLean no cérebro.)
Partindo da perspectiva evolucionista e relacionando-a com as pesquisas e teorias da neurociência, uma visão muito interessante sobre o cérebro foi proposta por Paul MacLean em 1970, que dividiu o cérebro humano em 3 regiões que compreendem estruturas específicas e que relacionam-se com o cérebro de outras espécies de animais.
O cérebro reptiliano é a camada mais primitiva e é composto principalmente pela medula espinhal e por porções do prosencéfalo; é conhecido como “cérebro instintivo” e é responsável por reflexos simples. Na sequência, vem o cérebro dos mamíferos inferiores, que é formado pelo sistema límbico e é a base do comportamento emocional. Por último, vem o cérebro racional, que é composto pelo neocórtez, a camada mais externa que contorna grande parte do cérebro e é responsável por funções como o pensamento abstrato, a moralidade e atividades de raciocínio complexo, por exemplo.
As emoções no cérebro
Muito se descobriu sobre o cérebro nos últimos 20 e 30 anos, mais do que nunca antes, porém, ainda pouco se sabe de forma segura sobre seu real funcionamento. Todavia, a constante encontrada nas investigações inclinadas às temáticas do comportamento emocional tem apontado para a importância das estruturas que integram o sistema límbico. A amígdala, um dos componentes do sistema límbico, que antes era associada, quase que exclusivamente, à emoção de medo, hoje já é compreendida como um grande “centro das emoções” e tem demonstrado ser de grande importância e influência em vários aspectos da vida emocional.
“As emoções são muitas e difíceis de classificar. Envolvem sempre três aspectos:
( 1) um sentimento, que pode ser positivo ou negativo; (2) comportamento, ou seja, reações motoras características de cada emoção; e (3) ajustes fisiológicos correspondentes. As regiões neurais envolvidas são geralmente reunidas em um conjunto denominado sistema límbico, que agrupa regiões corticais e subcorticais situadas sobretudo, mas não exclusivamente, nos setores mais mediais do encéfalo. […] Uma região do lobo temporal desempenha o papel de botão de disparo das emoções: a amígdala. Sua função é receber as informações sensoriais e interiores provenientes do córtex e do tálamo, filtrá-las para avaliar sua natureza emocional, e comandar as regiões responsáveis pelos comportamentos e ajustes fisiológicos adequados (no hipotálamo e no tronco encefálico).”(Lent, 2010, p. 714)

(As imagens em 3D sinalizam, respectivamente, a divisão padrão por lobos corticais; a sinalização do sistema límbico; e o destaque para as amígdalas cerebrais.)
As emoções do cérebro para a face

(Imagem que exemplifica a configuração fisiológica do nervo craniano VII.)
Uma das principais estruturas cerebrais responsáveis pelas expressões faciais é o Nervo Facial (ou Nervo Craniano VII). É por meio dele que o cérebro transmite as informações que corresponderão na alteração de aparência decorrente da movimentação de músculos faciais específicos em seres humanos. Em outras palavras, ele controla os músculos da expressão facial.
Esta estrutura é de fundamental importância para a compreensão da expressão facial da emoção e também para a investigação clínica de patologias. É esse nervo que faz com que as informações do cérebro cheguem à face e comuniquem algo. Sem o adequado funcionamento dele não é possível que os nossos músculos faciais reajam, de forma específica, à impulsos nervosos específicos.
“Por exemplo: um doente com paralisia do nervo facial pode apresentar distúrbios da fala porque não consegue mover adequadamente os músculos da face. Ao contrário, os portadores de afasias podem perder a capacidade de falar sem apresentar qualquer deficiência no funcionamento da musculatura facial.”
(Lent, 2010, p. 695)
Referências
Darwin, C. (2009). A expressão das emoções no homem e nos animais. (Leon de Souza Lobo Garcia, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Obra original publicada em 1872).
Ferreira, C. (2017). Base de Dados CICEM: 3D Brain (CICEM-3DB). São Paulo: CICEM.
Ferreira, C. (2018). Estudos sobre a mensuração científica da face humana: vol. 1 – o guia do emocionauta. São Paulo: CICEM.
Lent, R. (2010) Cem bilhões de neurônios?: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Ed. Atheneu.
Para saber mais
- A Detecção de Mentiras
- As Novas Plataformas do CICEM vêm aí!
- A Expressão Facial da Emoção na Psicopatia
- 3 Mentiras a Cada 10 Minutos: de onde vem isso?
- Conheçe Lie To Me?
- O Cérebro e a Expressão Facial da Emoção
- Sorriso Falso e Sorriso Verdadeiro (Duchenne Smile)
- A Expressão Emocional do Olhar
- Sobre as Microexpressões Faciais
- Quem é Paul Ekman
- Está lançada a Boomerang FACS Code Database
- O que é a Comunicação Não-Verbal?
- O que é FACS?
- O Estudo de Duchenne
- 7 Emoções Básicas Universais
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