CICEM Lança Álbum Musical Sobre As 7 Emoções Universais

Caros amigos da ciência e da arte,

é com grande entusiasmo que compartilho uma inovação de notável profundidade: o CICEM – Centro de Investigação do Comportamento das Emoções acaba de lançar um álbum musical que traduz as sete emoções básicas universais em uma linguagem poética e sonora.

CD 7 Vozes da Emoção - divulgação - CICEM Grooves

(Divulgação: CICEM Grooves)

Este trabalho não é apenas uma obra musical; ele é um exemplo de como ciência, arte e inovação podem se entrelaçar de maneira harmoniosa. Da ciência extraio anos de pesquisa, criação de mais de 50 bases de dados e recursos didáticos, e experiência da aplicação em diversos contextos (sobretudo no ensino, investigação privada e prática clínica); da arte, ou melhor, das artes, junto a letra e seu conteúdo verbal assertivo, mais a poética com sua rítmica e prosódia pensadas para as canções, juntamente com os estilos (ou gêneros musicais) e arranjos direcionados para dialogar com as emoções, além de ter de pensar em criar também um encarte, o que envolve artes gráficas; da inovação destaco o papel fundamental das IAs para a criação desse álbum, uma vez que as letras iniciais e os áudios finais foram gerados com base em prompts. Antes de pensar em escrever as letras, solicitei a alguns chatbots que o fizessem e fiquei impressionado com os primeiros resultados. Revisei e alterei todas as letras e fui refinando conforme o que eu queria comunicar com base nas 7 emoções. Exemplos claros incluem o meu pedido para que a música sobre tristeza incluísse o fator comunicacional dessa emoção em demonstrar que a pessoa não está bem, pode estar precisando de ajuda e que a tristeza pode ajudar. Dessa forma, consegui chegar em versos como “Caminho só, sem direção / Mas a tristeza pode ajudar / Cada passo pode ser mais leve / Se o outro me estender a mão / Chove no meu peito sem parar / E as lágrimas vêm pra me mostrar / Que talvez eu precise de alguém pra me ouvir / Que a tristeza também pode pedir“. Outro exemplo está na música sobre a aversão (ou nojo), onde busquei incluir não só as questões sensoriais envolvendo aquilo que é asqueroso a nível físico (cheiros, toques, sons…), mas também os diversos tipos de preconceitos que se encontram no espectro dessa emoção. Assim cheguei em versos como “O cheiro invade, eu quero fugir / Algo podre no ar, que não dá pra fingir / Tudo em volta me faz recuar / Como se o mundo inteiro quisesse me empurrar” [com base na aversão física] e “Às vezes o nojo vira um julgamento / E o que é estranho vira aversão sem fundamento / O nojo me protege, me faz sobreviver /Mas também me cega, me faz não entender / Que às vezes o que afasto sem razão / É só um reflexo do meu próprio coração” [com base na aversão social]. 

Foram mais de 300 resultados sonoros obtidos por meio da Inteligência Artificial Suno, até eu conseguir chegar no resultado adequado. Pessoalmente estou muito contente com as 5 primeiras faixas do álbum e não gosto muito das 2 últimas emoções (que são a faixa 6 [aversão] e a faixa 7 [medo]). Elas deram muito trabalho e a parte sonora não ficou exatamente como eu queria, embora estejam tecnicamente corretas, uma vez que a música sobre a aversão traz elementos do funk e do groove que eu queria incluir por estarem relacionados com o fenômeno da stank face [assunto esse que abordarei em outro post] e também porque a faixa causa um certo dislike em mim. Já a faixa do medo eu acho muito barulhenta e me assusta um pouco – missão cumprida! 

* Para além das IAs, eu precisei finalizar algumas masters no software Audacity, consertando os finais das faixas 1, 5 e 6 (que acabavam abruptamente ou tinham alguma sobra) e aumentando os graves da faixa 6 (pois eu entendi a necessidade deles para o efeito desejado).

CD 7 Vozes da Emoção - verso - CICEM Grooves

(Contracapa do álbum ‘7 Vozes da Emoção’. Divulgação: CICEM Grooves)

Comentário faixa a faixa:

  1. Num Piscar de Magia (Surpresa):

Essa foi, de longe, a letra que eu mais mexi. A surpresa é consequência do inesperado, do imprevisto, do inacreditável, do fantástico. Daí “E se o céu mudasse de cor? / Dourado. Azul. Vermelho. E depois? / Num segundo, o chão não é mais chão / E as estrelas se dissolvem na palma da mão“. A escolha do estilo não foi fácil, eu cheguei a tentar inserir coisas como “circus music” e “fair music” no prompt mas os resultados não ficaram bons. Pensando em algum estilo que não seria ‘óbvio’, tentei “experimental music” e consegui chegar onde eu queria depois de 7 resultados.

2. Explosão Controlada (Raiva): 

Foi a primeira faixa que eu fiz. Eu entendi que o melhor estilo para cantar sobre a raiva era o rock and roll. Eu tentei prompts explorando algumas vertentes do rock, mas fiquei alegremente surpreso quando consegui esse resultado que me parece misturar um pouco do rockabilly com algo da jovem guarda, só que com mais agressividade. Inicialmente eu esperava algo mais Led Zeppelin, mas a guitarrinha limpa me conquistou. Nessa letra eu busquei falar da frustração, que é gatilho da raiva, da explosão de raiva e também como essa emoção pode levar a um sentimento parecido com empoderamento e potência. Alguns versos que falam disso são: “Ah, você achou que eu iria ficar calmo né /Sorrindo enquanto tudo desmorona ao meu pé“; “Tô adorando seu joguinho cansado / Mas cuidado uma hora explode / E aí meu amigo não tem quem segure / Eu sou a bomba que você acedeu“.

3. Nem Vale Meu Tempo (Desprezo):

Não sei vocês, mas eu não conheço nenhum estilo mais desdenhoso do que o jazz. É difícil de tocar e é complexo de ouvir – quem consegue pode se sentir superior. Foram alguns prompts tentando combinações com “slow jazz”, “standard jazz”, e até “contempt jazz”, mas o resultado final veio com o prompt “bebop”. A letra é cheia de ironias e referências à expressividade do sujeito desdenhoso. “Você fala, fala, mas eu nem ligo / Tudo o que diz soa tão vazio / Sua importância é só na sua mente / Acredite, meu bem, você é relevante“; “Desprezo é o que eu sinto, bem claro, bem seco / Você é só um erro, nada mais que um erro / Nem vale meu tempo, nem vale meu olhar / Eu te apago como pó no ar“.

4. Preciso de Mãos Pra Me Segurar (Tristeza):

Já comentei um pouco sobre essa acima. Para além de trazer questões reativas como o choro e as sensações desconfortáveis, eu quis enfatizar a função comunicacional da tristeza e como essa é a emoção adequada para se sentir frente a perda daquilo que se estima. É essa emoção que comunica necessidade de ajuda e de apoio ao próximo. “cada passo pode ser mais leve / se o outro me estender a mão“. No estilo eu queria algo como voz e violão, lento, espaçado, com ritmo arrastado, como a experiência da tristeza. Mas a música cresce, como uma tempestade de lágrimas e chega quase num canto evangélico que clama por uma ajuda. 

5. Sol Dentro de Mim (Alegria):

Aqui eu tentei samba, ritmos tropicais e até “chorinho”, que, apesar do nome, pode ser um ritmo extremamente alegre e enérgico. Cheguei onde eu queria incluindo a figura do crooner no prompt – bingo! A letra aborda o humor otimista, os risos e sorrisos expressivos e aquela sensação de prazer. Essa é a música que todo homem canta pela manhã depois de ter se dado bem na noite passada. “Tem um sol dentro de mim / Brilhando sem fim / A vida é tão massa, posso sentir / Risos no ar, é festa sem fim / O mundo inteiro dança, vem sorrir pra mim“.

6. Veneno Invisível (Aversão):

Aqui foram muitas tentativas. Embora eu quisesse chegar em algum tipo de som ‘pegajoso’ ou até aversivo, eu não sabia exatamente como proceder. Tentei prompts e combinações com “industrial”, “noise music”, “avante-garde”, “lo-fi”. Tudo estava ficando meio eletrônico e dançante demais – não fazia sentido. Foi aí que eu lembrei de uma aula onde apresentei e discuti com os alunos o fenômeno da stank face. Que, resumidamente, é um termo para um comportamento facial que parece nojo (com base nas AUs que são acionadas), mas que não acontece em experiências desagradáveis e sim em reações positivas frente a situações musicais e artísticas. Na música, esse tipo de expressão facial é observada facilmente em ritmos de origem negra e com forte presença de linhas de baixo e naipes de metal – tanto nos músicos que tocam e/ou improvisam, como também na audiência. O prompt final ficou “groove, funky, swing, bass”. Antes disso, claro, teve a questão da letra onde eu já comentei sobre o nojo físico e o nojo social que eu fiz questão de incluir. “A pele arrepia, não dá pra ignorar / O que é podre me diz que eu não devo tocar / É o instinto gritando, me fazendo parar / O nojo protege, me manda recuar“. “Às vezes o nojo vira um julgamento / E o que é estranho vira aversão sem fundamento“.

7. Sombras no Escuro (Medo): 

Essa também deu muito trabalho. Certa vez eu li que o Ozzy Osbourne queria transmitir, nas músicas do Black Sabbath, o mais parecido com as sensações que ele tinha assistindo a filmes de terror. Eles conseguiram! Fizeram músicas geniais e com um clima sinistro. Fui por aí tentando tudo o que tinha a ver com heavy metal, não cheguei nem perto do que eu queria, não importa a combinação que eu fizesse. As vezes algumas até começavam bem ou tinham trechos bons, mas não funcionavam como um todo. Inclusive, esse foi um problema que me acompanhou em todas as faixas. Pelo menos até a versão que eu usei, eu não podia falar algo como “até o segundo 30 ficou legal, mas preciso que o restante seja de tal forma”. Ou eu aprovava a master ou gerava um nova tentativa. Testei vocais masculinos e femininos, nada ficava bom. Se eu não errei a conta (contei 1 a 1) foram 57 tentativas, até chegar em algo aceitável. O resultado é uma música pesada, gritada e acelerada, bem longe do Black Sabbath que eu queria, mas que cumpre a sua função. Começa abruptamente e pode assustar alguns ouvintes que não viram nada parecido ao longo do álbum. A letra dialoga com a sensação desconfortável, com o acelerar do coração e a tendência a gritar, assim como com o humor paranoico que pode gerar ilusões/deformações sobre o estímulo.  “No silêncio da noite, eu ouço um sussurro / Sombras dançando, é tudo tão duro / O coração acelera, não dá pra negar“; “Um vulto se move, meu coração dispara / E a coragem se esconde, me deixando na cara“.

8 . Sol Dentro de Mim (incidental):

Esse trecho sobrou da master da faixa 5 e eu julguei excelente para encerrar o disco após a porrada no tímpano que foi a faixa 7. E, dessa forma, o álbum termina desejando que todes possam sentir um sol dentro de si.

CD 7 Vozes da Emoção - capa - CICEM Grooves

(Capa do álbum ‘7 Vozes da Emoção’. Divulgação: CICEM Grooves)

A capa é uma referência direta, explícita e incontornável ao álbum “A Hard Day’s Night” dos Beatles. No lugar da face deles, coloquei nosso Enzo.

Links de acesso:

O álbum está disponível na maioria dos serviços de streaming (Spotify, Apple Music, iTunes, Instagram/Facebook, TikTok & other ByteDance stores, YouTube Music, Amazon, Pandora, Deezer, Tidal, iHeartRadio, Claro Música, Saavn, Boomplay, Anghami, NetEase, Tencent, Qobuz, Joox, Kuack Media, Adaptr, Flo, MediaNet). Abaixo listo os links para acesso em Deezer, Spotify, YouTube Music e Apple Music:

Deezer: 7 Vozes da Emoção – Álbum de Centro das Emoções | Deezer

Spotify: 7 Vozes da Emoção – Álbum de Centro das Emoções | Spotify

YouTube Music: 7 Vozes da Emoção – Álbum by Centro das Emoções | YouTube Music

Apple Music: ‎7 Vozes da Emoção – Album by Centro das Emoções | Apple Music

Comentários Finais

Espero que essa produção não sirva apenas ao entretenimento, uma vez que as músicas são boas e podem ser ouvidas com essa finalidade, mas que consigam também fazer com que a pessoa preste atenção na letra e nas emoções que elas tentam retratar. Esse não é um produto exatamente ‘artístico’, mas é um projeto conceitual feito por um laboratório. Sendo assim, que haja um efeito didático e reflexivo sobre as emoções, suas experiências, expressividades e comportamentos associados – afinal, como já dizia Paul Ekman, são elas que determinam a qualidade das nossas vidas.

 

por Caio Ferreira

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