A Detecção de Mentiras

Nariz de Pinóquio, Lie to Me, polígrafo, microexpressões faciais, contato visual? Como funciona a detecção de mentiras?

O que é uma mentira? Se eu omito uma informação estou mentindo?

Primeiramente, mentira vem do latim mentiri que significa “enganar, dizer falsidade”. Hoje também se fala sobre tipos de mentira, como:

  • Fabricação;
  • Meia Verdade;
  • Falsificação Implícita;
  • Mentira Altruísta;
  • Omissão.

Por mais difícil que seja definir o conceito de mentira, os tipos acima listados são facilmente encaixados na descrição de Freitas-Magalhães (2017), que também caracteriza a mentira enquanto uma fraude ou uma omissão:

“A mentira pode ser definida como o acto de enganar alguém, propositadamente, sem antes o informar de tal intenção. Assim, de acordo com esta definição, quando se joga póquer, ao omitir informações sobre o jogo, o individuo não estará a mentir, pois espera-se que um bom jogador faça bluff durante a partida. Da mesma maneira que o jogador de póquer, o actor não espera que o seu público acredite que as emoções que expressa sejam reais”.

(Freitas-Magalhães, 2017, p.30)

Para além da investigação sobre a mentira e suas características, quem busca encontrar a verdade, deve também ter em vista o que levou a pessoa a mentir, isto é, quais as possíveis motivações para a mentira. Ekman (1985/2009) aponta 7 motivos que levam alguém a mentir:

  • Ganhar Vantagem/Recompensa;
  • Proteger terceiros;
  • Evitar castigos e punições;
  • Evitar constrangimentos e situações embaraçosas;
  • Controlar informação;
  • Cumprir exigências no trabalho;
  • Aumentar o próprio ego/Impressionar positivamente.

Há também aqueles com componentes mais perversos de personalidade que utilizam a mentira para se divertir e aqueles com um distúrbio particular chamado mitomania – que apresentam uma crônica compulsão pelo comportamento de mentir.

curso de detecção de mentiras

(Imagem: Domínio Público)

Mitos sobre a Detecção de Mentiras

Já pensou se estivesse em uma situação onde alguém lhe contasse uma mentira e então o nariz dessa pessoa começasse a crescer? Isso seria possível se você estivesse conversando com o Pinóquio. Mas, diferente do carismático boneco de madeira criado pela Disney, as pessoas não emitem um sinal específico e universal que denuncia a mentira: como olhar para um lado específico; ou contrair os lábios; ou coçar a nuca; ou por exemplo, apertar as mãos. Isto é, cada pessoa mente de um jeito e o segredo está em utilizar de ferramentas científicas para analisar, mensurar e interpretar os comportamentos padrão e o comportamentos desviantes de um sujeito investigado – em outras palavras, a linha de base e os pontos quentes.

“Como as contradições e hesitações podem indicar um pensamento a respeito de algo distante da conversa, invoco aqueles sinais de pontos quentes em vez de sinais de mentira: eles assinalam um momento em que você precisa descobrir mais informações”.

(Ekman, 2003, p. 227)

Outro dos frequentes mitos associados ao mentiroso é que esse faria menos contato visual do que uma pessoa que conta a verdade, uma vez que esta” olha nos olhos”. É curioso pois pesquisas já apontaram o contrário, mostrando que o mentiroso não só faz contato visual como pode fazer até mais do que aquele que fala a verdade e isso tem relação com o querer ver e se assegurar que aquele que escuta a mentira está acreditando nela.

Como identificar a mentira

detecção de mentiras

(Demonstração da utilização do polígrafo. Imagem: Domínio Público)

De acordo com a literatura atualizada sobre a detecção de mentiras, o famoso polígrafo nem aparece na citação abaixo (que lista 4 tipos de métodos para detectar mentiras e suas respectivas fiabilidades). E não aparece, pois o polígrafo mede o ritmo da respiração, a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e o suor na ponta dos dedos da pessoa examinada, ou seja, alterações fisiológicas que já foram associadas ao comportamento de mentir, mas que hoje são conhecidas enquanto excitações do sistema nervoso e responsáveis pelos frequentes falsos-positivos sinalizados pela máquina. Sua baixa fiabilidade também é comprovada com os diversos e eficazes métodos divulgados para “enganar o teste do polígrafo”.

“Existem quatro tipos de sistemas para detetar a mentira:

a). Electoencefalograma.

Prodecimento: aplicação de 128 sensores para medir a actividade elétrica no cérebro.

Fiabilidade: 86%.

b). Ressonância magnética.

Procedimento: permite a visualização da mentira no cérebro.

Fiabilidade 90 a 93%

c). Microexpressões.

Procedimento: três regiões são especialmente invocadas durante uma mentira:

– orbital direita e interior frontal;

– direita médio-frontal;

– cingulado anterior.

Fiabilidade: 90 a 95%.

d). Visualização ocular.

Procedimento: visualização térmica, câmara de infravermelhos e atenção ao fluxo sanguíneo em redor dos olhos.

Fiabilidade: 85 a 92%”.

(Freitas-Magalhães, 2017, p. 18)

Nesse contexto, o que mais me interessa são as expressões e microexpressões faciais. Uma vez que a mentira é construída no cérebro, as expressões faciais são consequências da atividade cerebral e a face é a parte do corpo mais exibida durante a vida, temos acesso a verdade estampada que grita nos rostos das pessoas, por mais que essas tentem dissimular.

(Caio Ferreira em curso do CICEM falando sobre o seriado Lie to Me. Imagem: CICEM)

“Além das expressões aparentemente falsas, as mentiras acerca das emoções podem produzir microexpressões que revelam a emoção oculta ou fazem-na transparecer, que escapam da máscara”. (Ekman, 2003, p. 229).

Para quem não conhece o conceito de microexpressão facial, esse diz respeito a um tipo de expressão caracterizada por ser involuntária; ter duração muito rápida (entre ½ e ¼ de segundo); baixa intensidade de movimento muscular e estar associada com um vazamento de uma emoção que se tentou mascarar ou reprimir. Foi um termo amplamente divulgado com o seriado Lie to Me (Fox, 2009-2011), que faz referência à utilização de conhecimentos sobre a comunicação não-verbal e utilização de técnicas científicas (como o Facial Action Coding System – FACS), para detecção da mentira e investigação da verdade.

A face é a grande porta voz do comportamento emocional, nela a verdade grita, canta e desafina

Referências

Ekman, P. (2003). A linguagem das emoções: revolucionando sua comunicação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo: Lua de Papel.

Ekman, P. (1985/2009). Telling lies: clues to deceit in the marketplace, politics and marriage. New York: W. W. Norton & Company, Inc.

Ekman, P.; Friesen, W. V.; & Hager, J. C. (2002). The Facial Action Coding System. (2nd ed.) Salt Lake City, UT: research Nexus ebook.

Freitas-Magalhães, A. (2017). Por que me mentes: ensaio sobre a face da mentira. Porto, Portugal: FEELab Science Books.

Knapp, M. L. & Hall, J. A. (1999). Comunicação não-verbal na interação humana. São Paulo: JSN Editora.

Vrij, A.; Granhag, P. A. & Porter, S. (2010). Pitfalls and oportunities in nonverbal and verbal lie detection. Psychological Science in the Public Interest, 2010, 11 (3), pp. 89-121.

Wiseman, R., Watt, C, ten Brinke, L., Porter, S., Couper, S-L, & Rankin, C. (2012) The eyes don’t have it: Lie detection and neuro-linguistic programming. PLoS ONE 7: e40259. doi:10.1371/journal.pone.0040259

Por Caio Ferreira

 

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