Visitando o Santuário da Sagrada Face

BACKGROUND AFETIVO

Era sábado de manhã, dia 03/10/25, quando estávamos indo para a cidade de Aparecida (SP). Já havia começado as festividades da padroeira e a estrada estava repleta de romeiros. Fiquei admirando essas pessoas que enfrentam longos dias de caminhada embaixo de chuva e embaixo de sol a fim de prestarem sua devoção à Nossa Senhora Aparecida. Pensando sobre os afetos, considerei que, diferentemente dos outros animais que estão mais limitados às emoções básicas e aos componentes instintivos herdados e compartilhados entre a espécie, o homem consegue criar rituais afetivos para experienciar suas emoções e seus elaborações emocionais. O ritual envolve uma roupa, envolve um percurso, envolve uma disposição afetiva, entre outros elementos que são observados nos deslocamentos dos romeiros pela via Dutra ou então pela Rota da Luz, sendo essa um caminho de 200 km de peregrinação que vai de Mogi das Cruzes (SP) até o Santuário Nacional de Aparecida. “Isso é uma prova de fé! Isso é uma demonstração de muito amor, certamente não é pouco!”, foi o que eu pensei enquanto observava como um passageiro na estrada. Em se tratando de religião católica, também considerei “ou será muita culpa?”. Mas até o final, estava eu convencido de que o amor e a gratidão encontravam mais ressonância por aqueles corações.

(Detalhe na fachada do santuário. | Foto: CF)

Foi por esse momento que meu sócio, ao volante, disse “olha lá: o mosteiro da sagrada face”. E com uma espécie de susto eu reagi “onde? Já passou?”. Era a terceira vez que estávamos indo para Aparecida e nunca havíamos esbarrado nesse tal mosteiro da sagrada face. Aquilo me despertou um repentino e intenso interesse, afinal, eu sou o emocionauta que estuda diversos aspectos da face há cerca de 10 anos – eu TINHA que conhecer este lugar. Então meu sócio disse que ainda não havíamos passado e apontou a placa com a entrada para o lugar, a placa que ele tinha visto na estrada. O carro entrou em comum acordo, desviamos da rota prévia e viramos à direita para acessar a estrada que leva ao mosteiro, localizado em Roseira (SP), uma cidade antes de Aparecida (SP). Não demorou para que avistássemos uma grandiosa e bela construção de pedra. Quando mais nos aproximávamos, mais bonito o lugar parecia. Ao chegar de frente para a construção, um imponente e dourado rosto metálico de Jesus adornava uma das fachadas da obra. Até aí, eu apenas pensei o que eu já tinha induzido antes: a sagrada face é a face de Jesus e esse mosteiro é sobre isso. Mas o que eu ia descobrir lá dentro era algo muito menos raso e muito mais surpreendente.

A VISITA EMOCIONAL

Chegamos por volta das 11h e pouquinho e ficamos jubilosos pois a visitação ao mosteiro se encerraria às 11h45. Ainda que fosse por pouco tempo, daria tempo para ver alguma coisa. Pensei que talvez uma parada anterior ou algum desvio nos faria encontrar aquele lugar fechado e lamentar o desvio inútil da rota original. Não foi o que aconteceu. Subimos as escadas, passamos pela recepção e adentramos na lojinha, claro, onde comprei algumas coisas, incluindo um pingente e uma medalha com face que me remeteram ao santo sudário. Por ter demorado mais na loja, ao sair dela, encontrei o sócio lendo algo na parede. Ele me explicou o que tinha lido e eu fiquei impactado, depois eu li o texto e fiquei mais impactado ainda. Dessa forma, não vou parafrasear o que lá estava. Acho que é melhor colocar o texto original [“Origem do Ícone da Sagrada Face“] e, se for o caso, voltar a comentar algo na sequência.

Mosteiro da Sagrada FaceSantuário da Sagrada Face

(Painel informativo em local interno. | Foto: CF)

A FACE REVELADA

Fiquei surpreso e impactado com a história: a aparição de uma face mais intrigante no verso pintura! Até então eu estava achando que o mosteiro estava fazendo referência à face que apareceu no sudário de Turim, quando na verdade, tratava-se de um outro fenômeno e do qual eu nunca tinha ouvido falar.

Para quem não leu o texto da imagem acima, resumidamente, pelo ano de 1959 o padre Januário Baleeiro de Jesus e Silva pintou o rosto de Jesus com os próprios dedos, em um pedaço de cetim branco de 50 x 80cm, para utilizar em uma procissão. “Ao se despregar o pano da mesa, os que estavam presentes verificaram que do outro lado do pano, havia uma outra Face muito mais artística e com traços muito mais delicados da fisionomia de Cristo, incomparável com a original”.

De acordo com as informações do santuário, a imagem foi submetida à análise de Dr. Gerson Pompeu Pinheiro, diretor do Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro [1958–1961 e 1964–1971], onde afirmou, em laudo, que o aparecimento da segunda imagem no verso não podia ser explicada pelo vazamento da tinta usada para a pintura da imagem original.

A face revelada está exposta e pode ser visitada dentro da igreja do Santuário da Sagrada Face.

Consulte os horários do Santuário por meio desse link: https://mosteirodasagradaface.com.br/o-santuario/horarios/

Sagrada FaceMosteiro Sagrada Face Santuário Sagrada Face Face Revelada

(Local interno onde a face revelada está exposta. | Foto: CF)

(Face pintada e Face Revelada lado a lado. | Montagem com fotos disponíveis em https://mosteirodasagradaface.com.br/a-sagrada-face/)

CONSIDERAÇÕES

Enquanto escrevia e buscava informações para esse texto, descobri que o Mosteiro da Sagrada Face foi elevado à categoria de Santuário em novembro de 2024.

Por fim, recomendo a visitação tanto para religiosos quanto para estudiosos sobre a face humana. Espero que esse texto, além de informar sobre o Santuário, possa ter ajudado a compreender um pouco da espiritualidade e da experiência religiosa como componentes que agem sobre os afetos e as emoções humanas.